Novamente Paris

Jardim

Hoje, 14 juillet – ou 14/7/14 (o que dá uma impressão de uma sequência cabalística)- é dia propício para que eu pense no meu recente retorno a Paris. Nesta segunda vez, que entretanto foi a primeira em tantos aspectos, tive a certeza de que uma extensão do meu corpo está na França. Porque de lá eu alcanço o mundo inteiro – e o mundo começou, algumas semanas atrás, no Trocadéro. Por exemplo: pensemos no Musée do Quai Branly, para um mergulho ancestral. Ali, há potes cerimoniais da população mapuche, máscaras da Danse des Chunclus e da Morenada, cerâmica Nasca (dos Andes pré-hispânicos), teponaztli (tambores astecas) e um maravilhoso vaso cefalomórfico maia, da Guatemala, datado por volta de 300 a.C.

Vaso

Eu poderia também falar das coroas e braceletes da Etiópia cristã, das cruzes de procissão e pinturas do começo do século XIII – ou então, comentar o díptico da igreja de Qaha Iyäsus. Ainda haveria o aloalo, tipo de pote funerário de Madagascar, ostentando crânios de zebras fixados como oferendas. E os guardiões dos relicários, obras do Congo. Os escudos de palha trançada, de madeira, ou ainda feitos de couro de elefante ou de rinoceronte, vindos da Uganda. E as máscaras küappaat, da Groenlândia, com uma deformidade que lembra os quadros do Francis Bacon…

Masque (1)

Na linha de sedução pelo terror, lembro os vodus do Haiti, ligados aos rituais desconhecidos da sociedade secreta Bizango: o personagem guerreiro se apresenta coberto de tecidos vermelhos e pretos, costurados em alternância com espelhos, como se fosse um tipo de brincante do Nordeste brasileiro.

Vodoo

Mas o mais comovente – se fosse preciso escolher – foi o mastro do urso, canadense,a retratar o mito de Peesunt, jovem raptada por ursos, que dá à luz criaturas mistas. É justamente assim que sinto, sequestrada por inúmeras culturas férteis, obras de arte, países, línguas – tantos sobressaltos felizes que acontecem somente em Paris.

Totem