“Oh, you’re sure to do that, if only you walk long enough.” (The Cheshire Cat)
Arquivo mensal: abril 2014
A disponibilidade das peças de um puzzle
“Entre el Yin y el Yang, ¿ cuántos eones? Del sí al no, ¿cuántos quizá? Todo es escritura, es decir fábula. ¿Pero de qué nos sirve la verdad que tranquiliza al propietario honesto? Nuestra verdad posible tiene que ser invención, es decir escritura, literatura, pintura, escultura, agricultura, piscicultura, todas las turas de este mundo. Los valores, turas, la santidad, una tura, la sociedad, una tura, el amor, pura tura, la belleza, tura de turas.” (Rayuela, cap.73)
As metamorfoses oníricas
Novamente Cortázar aqui retorna, com o seu Los autonautas de la cosmopista. Desta vez, a citação refere-se à mudança no estilo dos sonhos, que o autor observou durante a sua viagem pela autoestrada Paris-Marselha – e nesse caso, o estilo é estético mesmo, e basta reler este trecho para eu ter uma vontade louca de sonhar em linhas renascentistas, ao menos uma vez (mas para isso eu talvez também tenha que dormir em situação nômade):
“Si hubiera que resumir la diferencia con los sueños sedentarios diríamos que reside en un creciente aumento de la acuidad, de la forma en que se recortan las cosas y los sucesos, la ‘lenticularidad’ de las imágenes. Cada vez soñamos menos Rembrandt y cada vez más Van Eyck o Roger van der Weiden. Cuando nos contamos nuestros sueños, llegamos a dar detalles de una extraña precisión, tanto en lo referente al decorado como a la anécdota. No podemos cotejarlos, claro, pero las descripciones de Carol y las mías tienen en estos días una textura minuciosa, de grano muy fino, de colores intensamente definidos, de formas completas y precisas. Cuando soñamos a alguien que conocimos o conocemos, cada rasgo, gesto y palabra son de una fidelidad asombrosa, pero si se trata de una invención del sueño, esa invención tiene también contornos y características que cabría llamar estereoscópicas.” (pp. 310-1)
Leiris e a arte africana
(novas impressões sobre Paris e seus museus)
No Pompidou, desisti de tentar a exposição do Cartier-Bresson, porque uma fila de 45 minutos não é coisa saudável para uma viajante inquieta. Em compensação, o acervo permanente me extasiou durante quatro horas intensamente aproveitadas. Eu sempre me comovo com Chagall e Kandinsky, e lá estavam eles, assim como Nathalie Gontcharova (cuja pintura eu vi pela primeira vez em La Noria, no México), Alexander Calder e seus móbiles a me transportar para o Peggy Guggenheim, em Veneza… A propósito, aprendi que Calder teve a revelação de uma arte abstrata em movimento quando visitou o ateliê de Mondrian, em 1930. Desde que se obtém esta informação, percebe-se como os dois afinal são parecidíssimos, no trabalho com as cores, principalmente!
Voltando ao acervo do Beaubourg, não vi o Bresson mas pude encontrar ali o maravilhoso Kertész. Vejam como “Os óculos e o cachimbo de Mondrian” (1926) são uma esplêndida composição – que, novamente, conversa com o neoplasticismo.
Mas talvez o aprendizado mais memorável desta visita tenha surgido com Michel Leiris. Deste autor, li apenas A idade viril, o suficiente para me colocar num alerta extremamente receptivo às obras dele. Mas eu não imaginava que sua coleção de arte africana, americana e da Oceania fosse rica a tal ponto (dizem que boa parte do acervo do Musée do Quai Branly também veio dele). Já anotei, para procurar depois, o seu Écrits sur l’art – mas por enquanto, apenas para se dimensione, e de maneira bem explícita, vejam abaixo como as esculturas africanas foram imprescindíveis para a arte moderna. A tela é de Picasso, naturalmente: um exercício muito próximo da famosa figura em Les demoiselles d’Avignon.
Como se não bastasse toda essa riqueza, Michel Leiris ainda nos premia com palavras e reflexões. Este fragmento aparecia como comentário pertinente à obra de Giacometti – mas serve como pensamento universal, na arte e na vida. Cliquem na foto, para facilitar a leitura:
Fotografia e literatura, segundo Cortázar
“De que manera se opera esa transformación, ese passaje del poder subjetivo del ojo a lo que es fotografiado? No se trata solamente de una cuestión de técnica sino, para empezar, de saber ver, y luego de impregnar con la misma mirada la ‘realidad’ objetiva. Así como la literatura no puede explicarse por el simple manejo de las palavras – puesto que por lo menos en las sociedades que llaman desarrolladas toda la población adulta dispone de ‘técnicas’ de la lengua escrita –, tampoco puede explicarse el atrativo y la magia de la fotografia por los conocimientos técnicos. En el fondo, no participan el fotógrafo y el escritor de un mismo proceso, sólo que utilizan útiles diferentes?”
(Cortázar & Dunlop. Los autonautas de la cosmopista. Buenos Aires: Alfaguara, 2007, p.329)
Chorar nos museus
E não me esquecerei da senhora que me contou como certo dia, estando sozinha num museu de tapetes do Irã, pôs-se a chorar discretamente, mas não tanto a ponto de passar despercebida por uma jovem, também visitante. A desconhecida se aproximou e, num inglês canhestro, lhe disse que, sendo a senhora estrangeira e aparentando estar tão triste e só, poderia acompanhá-la para um chá. As duas conversariam e se sentiriam melhor. Naquele instante, a iraniana lhe pareceu mais bela que todos os tapetes do mundo: a senhora a abraçou em resposta à sua generosidade, e chorou ainda mais.
Os dias lânguidos
Maria do Caritó
Serendipity
Amigos, caso queiram descobrir sobre esta palavra mágica em inglês, escutem a jornalista Maria,que me entrevistou para a Radio Alto 948, durante o Salão do Livro de Paris. Nós estávamos no hotel George Sand, onde a escritora francesa deu à luz o seu filho Maurice: ambiente propício às boas energias, certamente.
O link para ouvir a entrevista – que está dividida em duas partes – segue abaixo:
http://www.telechargement.radioalto.info/index.php?c=Defaut&a=listeEmission&typEmission=1
Mon seul désir
Continuando a postagem anterior, prossigo na tentativa de traduzir Paris através dos museus. Ainda no Louvre, visitei as obras medievais e deparei logo com a beleza da Bôite Reliure, caixa-livro da primeira metade do século XI, que a partir de 1677 continha a “fórmula do sermão dos duques de Brabant”, com filigranas, esmaltes carolíngios e os quatro evangelistas nos cantos – uma peça que merece longos momentos de contemplação.
Também o Relicário do braço de Carlos Magno (Liège, 1165-1170) e o Relicário de São Francisco de Assis (ateliê de Limoges, c.1228), em forma de trevo, me fisgaram.
A Idade Média se mostrava ainda em faianças e tapeçarias medievais. Estas últimas, em vermelhos e azuis pálidos, delineando-se em meio a tons terrosos para compor uns rostos crespos de lã, foram um ótimo prelúdio do que eu veria no Musée de Cluny. A famosa sequência dos tapetes da Dame à la licorne me arrebatou, como não poderia deixar de ser. Mas, se todas as atenções apontavam o tapete enigmático do sexto sentido, intitulado “Mon seul désir”, nem por isso deixei de passear longamente pelas outras salas, transportando-me às termas de Cluny (na época da Lutécia), olhando lápides do século XIII ou apreciando as esculturas antigas. O destaque vai para este capitel mostrando Daniel na cova com o leão (Paris, vers 1030-1040):
E, embora as esculturas góticas (e as igrejas!) mereçam um espaço específico de comentários, por enquanto eu apenas atiço, com a beleza destas estátuas longuíssimas (ainda do Musée de Cluny):
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