A poucas horas de embarcar para um período italiano de estudo/turismo/aventura espiritual, não pude deixar de ver a exposição “Aldemir Martins – desenho solar”, que vai até amanhã na Casa D’Alva (rua João Brígido, 934). Fiquei encantadíssima por encontrar obras do acervo do artista, incluindo o Olé, com seu corpo de hachuras transformado em estrela porosa, uma peneira ao sol. Aldemir sempre me ensinou que um bicho pode nascer de arabescos, de uma malha de fios, como por mágica – e assim são todos os seus desenhos de galos e gatos, hipnotizáveis de geometria. Ele desenhava como se fizesse uma teia de aranha, em minúcias tão delicadas! Mas de repente um banho de cor atravessa um lado desse corpo quase transparente, materializando-o.
Toda essa mostra de Aldemir traz o interessante convívio entre um gesto rústico, que lembra a xilo, e traços internos sutilíssimos, na criação das texturas. Há muitas obras a citar: os seus pássaros, por exemplo, de corpo horizontal (um deles feito de listras, como se fosse uma partitura), uma cabra feita de tramas como se montada de retalhos (e que me lembrou a cabra de Picasso), um peixe que, na barriga, traz um tabuleiro de xadrez – e os cangaceiros, ah! com sua pele ríspida e digna, figuras de fazer sonhar com movimentos. A dança da mão do artista está toda lá.
Deixo Fortaleza pelos próximos dias com a satisfação por essa nova galeria de arte, responsabilidade do artista José Guedes. Não somente o espaço é aconchegante e tranquilo, mas também há capricho na criação do catálogo e, sobretudo, há a qualidade das exposições. A próxima – já fiquemos atentos – será em torno da Heloísa Juaçaba, sua obra e seu acervo.
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